O Cristão deve ou não se preocupar com política?

Deve o cristão se preocupar com a política? Neste artigo iremos tratar deste assunto, alertando que não tenho a intenção de conduzir o leitor a ter a mesma opinião que a minha, longe disso, só pretendo fomentar a meditação crítica sobre o tema.

Mais onde afinal de contas o cristão e a teologia entram no campo da política? Para responder essa questão abordaremos inicialmente o momento político atual do Brasil e, logo em seguida, os aspectos bíblicos que tratam de temas sociais, justiça, corrupção etc.

Surpreso caro leitor? Sim a Bíblia trata destes temas como veremos adiante.

Todos sabemos dos problemas políticos por que passa nosso país, os protestos iniciaram-se há alguns meses e não cessam. Diversas são as reivindicações, diversos também são os setores sociais que vão para as ruas cobrarem seus direitos.

Podemos afirmar que a corrupção, a quase certeza de impunidade proporcionada por uma legislação branda e cheia de válvulas de escape fazem com que a prática criminosa seja encarada como um meio de ascensão social, e a alta carga de tributos que alimenta o sistema sistema governamental não forne uma contrapartida satisfatória à sociedade, isso é latente quando se fala de saúde, segurança, previdência social, transportes entre outros serviços. 

Esses fatores por si já  motivam revoltas populares, adicione a isso uma política injusta de distribuição de renda e temos como resultado uma convulsão social.

Mais onde o cristão e a Bíblia entram em tudo isso? 

Um rei justo e honesto ajuda seu pais a crescer e viver em paz; o rei que quer ficar rico às custas do povo acaba destruindo sua nação. (Prv. 29:4 - Trad. Bíblia Viva)

Os teus príncipes são rebeldes, e companheiros de ladrões; cada um deles ama as peitas, e anda atrás de presentes; não fazem justiça ao órfão, e não chega perante eles a causa da viúva. (Is. 1:23 - Trad. João F.Almeida atualizada).

Bem se a Bíblia, ou melhor Deus (já que para nós cristãos a Bíblia é a palavra de Deus revelada aos homens) não está falando de política aqui acho que devo rever toda a minha formação escolar e porque não dizer como ser humano também.

No Livro da História dos Reis de Israel (I e II Reis na Bíblia) são inúmeros os relatos de que quando o Rei era temente a Deus o país e o povo prosperavam, essa prosperidade não era apenas financeira como pensam alguns, era uma prosperidade plena. Já quando o Rei não era temente a Deus e sua palavra toda a nação perecia.

Bem é difícil imaginar uma Teocracia nos dias de hoje, até mesmo o Israel bíblico aboliu tal sistema, porém é notável que quando governantes e nações seguem preceitos ético-morais cristãos o bem-estar geral, o crescimento e a prosperidade nacional são impulsionados.

Jesus Cristo também não se furtou em falar sobre política, além disso salientou que toda a autoridade política é ordenada ou concedida por Deus vejamos:

 E, aguardando oportunidade, mandaram espias, os quais se fingiam justos, para o apanharem em alguma palavra, e o entregarem à jurisdição e à autoridade do governador. 

Estes, pois, o interrogaram, dizendo: Mestre, sabemos que falas e ensinas retamente, e que não consideras a aparência da pessoa, mas ensinas segundo a verdade o caminho de Deus; é-nos lícito dar tributo a César, ou não? Mas Jesus, percebendo a astúcia deles, disse-lhes: Mostrai-me um denário. De quem é a imagem e a inscrição que ele tem? Responderam: De César. Disse-lhes então: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. E não puderam apanhá-lo em palavra alguma diante do povo; e admirados da sua resposta, calaram-se. (Lc.20:20-26 - Almeida Corrigida e Atualizada).

Mais adiante numa passagem perante Pilatos:

Disse-lhe, então, Pilatos: Não me respondes? não sabes que tenho autoridade para te soltar, e autoridade para te crucificar?  Respondeu-lhe Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fora dado; por isso aquele que me entregou a ti, maior pecado tem. (Jo. 19:10-11).

É notório o aspecto político das declarações, no primeiro caso Jesus afirma a legalidade dos governos, e, no segundo a origem divina dos governos.

O próprio Deus passou aos homens o seu sistema e programa de governo, instituindo-os primeiramente juízes, depois reis, e com o passar dos tempos estas funções evoluíram para as que conhecemos hoje.

Porém, desde os tempos mais remotos o bom governo e o bom governante agradam a Deus e pelos atos destes governantes suas nações são abençoadas, quando ocorre o contrário o resultado não é tão agradável.

Nos tempos da Igreja Primitiva (biblicamente a partir do livro de Atos) temos os apóstolos em missões dando forma ao Cristianismo e lutando contra governos déspotas e opressores só quando estes mesmos governos atacavam e tentavam à força rechaçar a ética inspirada divinamente por Jesus Cristo. A não ser por este particular não encontramos nenhuma incitação contrária a autoridade civil ou militar detentora de um poder nacional.

Bem não nos estenderemos ainda mais pois isso é assunto para mais de um livro e já estou esgotando a paciência de meu leitor. Em resumo:

Temos exemplos claros de quão é importante a política na vida das pessoas, sejam elas cristãs ou não. Toda a autoridade é delegada por Deus, mais nem toda a autoridade é temente a Deus. Nos primórdios da civilização e do cristianismo o povo teve que lutar para que seus governantes fossem bons governantes. E não é diferente agora. Todo o cristão tem o dever moral acrescido do valor divino de lutar dentro da legalidade por um governo melhor e temente a Deus.

Nunca se esqueça:

O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; mas os insensatos desprezam a sabedoria e a instrução. (Prv. 1:7).